Palavras e gestos



Ela imaginava que ambos se conheciam tão bem!
Imaginava também, que sendo assim, ambos entregaram nas mãos do outro, o poder de fazê-los sorrir, e o poder de machucar.
Poder esse que com certeza, lhes fora dado, já que as pessoas que se gostam, tem em suas mãos ou em suas palavras, a capacidade quase desumana de ferir mesmo quando se ama. Uma forma de defesa... É o que se pode dizer de seres racionais / “irracionais” (às vezes), porém, emocionais (tantas outras).
Pensava naquele momento de palavras ferinas, que apenas o mar, personagem de seus contos de saudade e solidão, se compararia em sua força e imensidão, à dor que seria para ambos, perderem-se em meio a tantas palavras insensatas e com tão pouca consciência.
Ela sentiu entre as angustias do momento e o medo que a coragem lhe impusera, que o que se construiu, e que se mantivera vivo por tanto tempo, não mereceria se perder em meio à aspereza de um “momento” mútuo de insanidade emocional. Fora pura bobagem.
Talvez ela esperasse a compreensão tão desejada por um coração que busca isso de tal forma que às vezes parece esquecer que na verdade, só importa... DE QUEM IMPORTA. E importava pra eles.
Para ela, no decorrer de todo aquele tempo, compreender as falhas dele exigiria a difícil missão de tentar compreender, ela mesma, as próprias falhas. Pois como se permitir tanto para o outro, sem antes, se permitir tanto a si mesmo? Mas o desgaste emocional já não lhe possibilava essa busca tão pessoal. Então apenas não julgava. Até aquele exato e desastroso momento.
Por sorte, abraços sinceros e palavras reconhecidas e de significados desfeitos, lhes trouxeram uma merecida tranqüilidade interna. Resumida, restrita a uma mútua e sincera compreensão.
A partir daquele momento, restava-lhe, a difícil tarefa de esquecê-lo... Mas questionava-se essa tal possibilidade! Seria possível esquecer o que não se quer esquecer?
O tempo, dizem, é um bom aliado pra isso. Talvez ela aprenda a não vê-lo mais... Talvez, nunca mais. Aprenda a não tocá-lo, quem sabe até, a não desejá-lo... Mas esquecer?! Não saberia até aquele exato momento como fazê-lo. Mas prometeu a si mesma, como forma de compensação para aliviar as dúvidas... Que ao menos tentaria... Ou talvez, não... Quem sabe?!

Gil Façanha

Comentários

Rê disse…
é muito complicado quando nos deixamos levar pelo descontrole do momento, mas é mais raro reconhecer isso e pedir perdão. Teu conto relata essa complexidade humana. Até quando acharão necessário magoar quem se ama pra se expor o que se pensa? Todos nós sofremos com isso. Mas, aplausos para reconhece suas falhas e busca mudá-la ou controla-las. Beijos poéticos de quem te lê.
DF disse…
Diz um provérbio que "o mal-entendido causa maisl mal do que o próprio mal".
A maioria das desavenças é fruto desse mal-entendido. Uma vez que o leite foi derramado ou a palavra foi mal-dita, o que vem a seguir são lamentos.
Muito bom o seu conto.

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