A Queda ou Apologia Ao Instante Presente



Eu era como uma personagem de teatro de fantoches, mas rompi os fios que ligavam a guia que manipulavam os movimentos, as ações preconcebidas da personagem. Eu interpretava ninguém!
Acostumado a ser guiado, no começo cai sem sustentação. Estranhei. Cai e na queda quebrei alguma coisa. Não sei bem o quê, mas era coisa necessária para eu saber se um dia eu fui alguém. Tamanho foi o susto quando descobri que o que eu era não passava de um boneco de fantoches.
Uma pré-vida torpe e sem significância. Eu era a própria manifestação do nada. Manifestar nada? Sim, é possível não ser.
Quando os fios são rompidos conscientemente há tempo para reorganização das idéias, das coisas primeiras, daquilo que chamamos de personalidade. No entanto, o rompimento abrupto e simultâneo resulta numa queda livre, aonde o chão é o único apoio sólido e confiável para ensaiar as primeiras engatinhadas.
Engatinhar livremente é demasiado mais prazeroso a correr aprisionado.
Engatinhar desprovido de preceitos é infinitamente mais satisfatório do que correr preso a conceitos vãos.
Volta-se ao inicio, aonde não há limitações. Nada é ditado. Quando o “estar” faz o “ser”, e as manifestações... A existência... É demonstrada na ação.  No aqui e agora.
A intensidade da emoção marca o presente, eternizando-o.
O momento emoldurado na mente... Na memória... No inconsciente. Alimentando o arquétipo da coragem.
Coragem de romper com o vigente, com o comum.
Coragem de cortar os laços que até então ditavam as ações.
Coragem de voltar ao inicio.
Coragem de não ter o passado como um fardo, tampouco o futuro como uma promessa.
Coragem de apagar, de negar tudo que não faz parte do agora. Coragem de manifestar uma pequena verdade resultante de uma reflexão honesta.
Coragem de dizer que o saber é inexistente.
Coragem de dizer que ação é ilusória.
Coragem de dizer que o agora já foi.

Rafael Rocha

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