Amor ou posse?



Sua visão foi roubada. Olhos vendados pela angústia da inferioridade imposta e admitida por ela mesma. Era uma dor sufocante, uma necessidade castigante de atravessar a névoa que existia em seu caminho. Cegueira causada pela mais insensata emoção. Do lado de fora, aquilo parecia loucura... Mas pra quem sentia por dentro, era o amor gritado, a permanência eterna exigida, o medo do abandono inesperado, o ego inadmissivelmente ferido. Havia naquela forma de amar, algo de posse refletido naquela sensação esmagadora que lhe tirava o ar do peito.
Para ela, ele a pertencia como a mais valiosa dádiva da vida, e dele, era esperado tudo o que ela mesma entendia como ideal. Enquanto que para ele... Ela era a enganosa possibilidade em ser ele mesmo, sem julgamentos ou condenações, livre de quaisquer expectativas vãs e injustas para qualquer mortal.
Ela o via como o reflexo de seus desejos, ao mesmo tempo em que ele queria apenas ser feliz ao seu lado. E assim, em direções opostas, ainda que lado a lado, por orgulho e incompreensão... Aquele amor foi condenado ao inferno, onde o ciúme foi a porta de entrada.


Gil Façanha




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