Saudade bandida




Desfaz de mim, saudade que mata!
Faz-me olhar o horizonte e nada ver além de lembranças.
Obriga-me a desejar o passado, aquele antigo sentir de criança.
Zomba dos meus temores, açoita-me com a nostalgia,
Sujeita-me a encarar o escuro horizonte, de onde no passado o sol me sorria.
Destrói minhas cresças, aquela esperança de um mundo melhor,
Descortina as janelas do meu sorriso e põe em meus lábios a tristeza sem dó.
Serpenteia meus caminhos, envenena minha fé...
Caçoa das minhas lutas, da minha alma de mulher.
Aguça todos os meus sentidos, faz-me entender o que é a dor.
Arranque-me as raízes plantadas no peito, destrua meu coração feito em flor.
Impiedosa saudade bandida, teu afã de invadir-me destrói minha muralha.
Tu eis tão carnal, lasciva, perdida...
E eu, guerreira lutando no fio de uma navalha. 


Gil Façanha


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